14 abril, 2008

Na última vez q estive em casa, terminaram de vez com boa parte do cenário da minha infância. Derrubaram árvores não centenárias, mas bastante centenárias pra mim, e eu percebi quão fácil é derrubar uma árvore com uma motoserra, o som assombroso de nenhuma resistência, a árvore apenas cai. e então em meia tarde não havia nada do que eu via quando era criança. como são frágeis nossas lembranças. que tolice, limpar de vida todo um terreno para enfiar duas casas frias de corredores de piso frio sem quintal no lugar.

Saudade imensa no meu peito. de amigos, de lugares, da minha casa, de ter paz, de acreditar em coisas q desmoronaram.

03 abril, 2008

Parada de instante na calçada
não te espero.
Sei que podes passar
Mas aguardo pacientemente
pela sua ausência.
Olha,
que eu mesma armei
minha desgraça.
Nem sei bem quando passas,
mas espero,
pra não te ver passar.

Guardo,
como vinil manchado
de bolores
um amor maior que o mundo
(que bem guardado,
veja,
num peito vazio
não dói!)
estampado no sorriso
quando acordas.

Em minhas mãos,
a textura de seu corpo sob o meu
o úmido de sua testa,
um pouco do teu cabelo,
o hálito de ânsia,
tudo que você não prometeu.

E o nosso riso,
por bem mais que gosto,
bem mais que gozo,
refletindo na janela do quarto.

01 abril, 2008

Quando foi que tudo ficou tão complicado?!??


Éramos bem mais simples:
tinhámos amigos, amores
evitávamos nossos inimigos na esperança do não-conflito.
Bebíamos, ríamos, dançávamos
e no outro dia havia a manhã.
Quando foi que perdemos a vontade de amanhecer?
Hoje o sol escuro deixou vestígio de passagem, num azul, como branco escarlate. Havia paz quando havíamos nós voltado, mas a estrada partia-se numa sombra.
Não sei no que acredito, nem onde vão meus olhos quando o quarto escurece. Hoje o dia é muita sombra e não há riso nem espera; não há mesmo pelo que esperar.
não há quem parta, não há quem chegue, nem eu mesma sei quando vou voltar.
A convicção que havia se perdeu com a mudança dos sonhos. De sonho moldei minha estrela, um sol muito pálido pra gente brincar. Mas sem brilho, esqueci de sonhar.


Quando perdi coração de estrela, meu corpo partiu-se em dois. Duas existências avessas ao convívio fizeram-se francamente habitar. De um lado, infalível racionalidade da manhã. Do outro, sorriso de poeta. Por muita procura perderam-se os homens. Minha vida, estrada alvoroçada, espírito de avenida. De paixão e pouca fé construí um palácio pouco habitado. Eram mais que rosas nas janela - eram rostos entrecortados e no grande salão, um rei muito pálido. Nos corredores, tropeçávamos em sonhos, alguns despedaçaram-se. Nossa alma, azul de cobre, se fazia amargurar-se.
De muita paixão, vendavámos os olhos. Havia doçura na paisagem que escurecia. Eu passeava na neblina e ria. Acolhi de passagem poema de imagens distantes. Entrelaçados braços no espaço, o coração palpitava. Fizemo-nos nus de corações amordaçados e guardamos, em segredo, nossa paixão de madrugada gelada, grama molhada e um vento daqueles das grandes mudanças. por fim, adormecemos.

1º de Abril

Poetas loucos
bêbados, trôpegos
Poetas poucos
Avança teu passo na noite prateada
Cinzas de escura manhã
que nasce
tão pouco.
Pouca manhã
de poetas ao gosto
de poucos
vivemos no instante
sem dia seguinte
Ouvimos escuro
e cantamos pedra fria
A calçada vazia.
Se eu corro,
se gritas,
onde escapo?
o que fitas?
Ilusão,
faz de mim companhia
e logo vomitas
tudo que passou
de súbito tilinta.
Meu abraço vazio
Seu corpo tão frio
1º de abril.