07 abril, 2015

diálogos imaginários I

Ela se sentou ali,
daquela beiradinha de precipício que já era quase sua casa,
e ele sentou-se ao seu lado.
Seus cabelos tinham mudado (no geral estavam mais curtos)
e tinham umas ruguinhas novas nos cantos dos olhos
desde a última vez que tinham se visto.
Pareciam mais adultos.
Um pouco mais tristes (ou fosse tudo saudade)
Talvez fosse o cansaço
ou aquela diferença de fuso horário que deixava tudo bagunçado
aquela coincidência de roupas fim de inverno-aqui-começo-de-outono-ali
-eu não sei o que está acontecendo, irmãozinho
demorou tanto pra isso aqui se arrumar sem você
O vento batia frio jogando o cabelo dele na frente do rosto
-eu lembro sempre disso,
esse jeito de jogar o cabelo pra trás...duvido você perder isso algum dia
-é tipo a sua mexida de cabeça não tocando?
-tipo isso...
Aquele silêncio-cúmplice, percebeu, lhe vazia muita falta

....havia luto, e um embrulho de estômago naquela pausa.

-daí tinha aquele movimento só de pizzacato, dois, três dedos pra dar conta! 
-cinco tomates atravessaram a rua
-três horas de sono por noite
-olha a covinhaa!...
- e numa França sem você, um Berlioz...
-sabe, eu conheço você, não importa quão longe, em tempo ou distância, você vá
aqueles sinos vão sempre soar dentro de você.
Ela sorriu.
Seus lábios meio rachados manchados de roxo-vinho.
Ele passou o braço envolta dela, apontando na distância um sol fraco:
-essa mar é bem menor do que parece, sabe, duende?
nada que você não dê conta.
Sorriram com os olhos.
Antes do que imaginavam, voltariam a se abraçar.