17 setembro, 2011


"Se já estou morto e não sei,
a quem devo perguntar as horas?
Se acabar o amarelo,
com que vamos fazer o pão?
Quantas igrejas tem o céu?
É verdade que as esperanças
devem regar-se com orvalho?
Por que choram tanto as nuvens
e cada vez são mais alegres?
Que acontece às andorinhas
que chegam tarde ao colégio?
É verdade que espalham
cartas transparentes pelo céu?
Quantas perguntas tem um gato?
As lágrimas que não choramos
esperam em pequenos lagos?
Ou serão rios invisíveis que correm para a tristeza?
Como se mede a espuma
que derrama da cerveja?
Que faz uma mosca encarcerada
num soneto de Petrarca?
Até quando falarão os outros,
se nós aqui já falamos?
Quantos anos tem Novembro?
Quem gritou de alegria
quando nasceu a cor azul?
É verdade que no formigueiro
Os sonhos são obrigatórios?
De que ri a melancia quando a estão assassinando?
Não é melhor nunca do que tarde?
Amor, amor, aquele e aquela,
se já não são, pra onde foram?
Ontem, ontem, disse a meus olhos
quando voltaremos a ver-nos?
Quantas semanas tem um dia
e quantos anos tem um mês?
É porque tem que morrer
ou porque tem que viver?
Onde encontrar uma sineta
que soe dentro de teus sonhos?
É verdade que a tristeza é larga
e estreita a melancolia?
A quem posso perguntar
que vim fazer nesse mundo?
Por que me movo sem querer,
por que não fico parado?
Também não pode matar-me um beijo de primavera?
Sofre mais quem espera sempre
ou quem nunca esperou ninguém?
Onde termina o arco-íris,
em tua alma ou no horizonte?
Talvez uma estrela invisível
seja o céu dos suicidas?
Para onde vão as coisas do sonho?
Vão para o sonho dos outros?
E onde o espaço terminas
e chama morte ou inifinito?
E como se chama esse mês que fica entre Dezembro e Janeiro?
E que importância tenho eu
no tribunal do esquecimento?
"................................do Livro das Perguntas__Neruda

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