23 dezembro, 2011

Porque é Bom__

Diante de tanto assombro de passado essa semana, eu fui ler uma coisa muito velha que me escreveram. Muito velha assim, dos longínquos tempos de 2007 rsrs. Coisa complicada.
2007 foi um ano marcadamente bizarro na minha vida. Foi o ano que vim pra São Paulo, o ano que marcou que esse lance de tocar contrabaixo era pra valer, que tomei mais decisões que tinha condição, me abismei e encantei com pessoas excessivamente e, como convém a uma pessoa de recém-dezoito impulsiva que si só, tomei vários capotes.
2007 me ensinou a ser gente. Me deu idéia do que era necessário pra ser adulta. Pra viver nesse meio musical meio sujo, meio desonesto, muito menos encantador que o esperado.
De lá pra cá meus anos ímpar tem sido sempre estranhos e incrivelmente difíceis (não é nada cabalístico, na real só pensei nisso agora, quando tava escrevendo)
2007,
2009,
e 2011.
A palavra chave é aprendizado.
O meio comum é o sofrimento.
Lá pelo meio eu acho que não vou aguentar. Que isso já passou do limite, qualé que é mundo e coisas bem piores. Que não sou nem um pouquinho forte o bastante pra tudo isso.
Perco fé, perco esperança de um monte de coisa, não acredito em mais nada, redescubro um monte de coisas, de repente aparece alguém, complica tudo, tudo dá uma amainada, complica tudo de novo, os planos se frustram, eu fico ainda mais brava, fico um lixo, fico triste, fico desesperada.
E quando acaba, e eu pego o ônibus, volto pra casa, percebo que sobrevivi.

Dessa vez eu percebi que cada uma que passou, das grandes e sérias, fez com que justamente isso acontecesse - eu sobrevivesse. Que a Camila não se perdesse, não deixasse de existir. Cada vez que uma pessoa me derruba, geralmente as que eu gosto pra caralho, de qualquer forma que apareça, mal resolvida ou não, eu tenho que achar isso de novo. As coisas que me fazem ser quem eu sou. Inclusive características bem pouco agradáveis, ou complicantes que eu tenho. E olhar, pegar aquele pacotinho mal-acabado, molhado de chuva, de lágrimas, rescindindo a álcool e cansaço, e achar uma coisa bonita dentro. Achar que aquilo merece ser salvo. Não importa o porquê. Os motivos são aleatórios, às vezes nem motivo tem. Eu preciso ser salva. E é o que acontece.

Eu sou bem mais forte do que costumo lembrar em situações de desespero.

E a cada uma dessas mais difíceis me deram - e tem dado - uma coisa boa, esse conforto de ser eu mesma. Sem nenhuma presunção disso ser o máximo mas é o que, no fim das contas, você mais precisa ser convencido que vale a pena - e de fato vale. É o que de mais concreto você acaba tendo. Claro que a gente vai mudar, sobre uma infinidade de aspectos, mais uma porção de vezes na vida. Mas certas coisas, sobre si, sobre viver e como viver, e como fazer as coisas, e o que fazer, você tem que simplesmente assumir. Mesmo que seja por hora, mesmo que você mude depois. Isso é, pelo menos, um conflito a menos na vida rs.

Eu acho que nunca terminei um ano tão frustrada comigo mesma profissionalmente. Mas isso veio justamente dessa coisa de olhar pra si. Na beirada de janeiro já, nesse fim de dezembro, as coisas já não tinham mais como se acumular, e continuaram acontecendo. Eu já tava mais que nesse estágio do 'não tenho  força pra isso não' e de repente me toquei disso. Eu olhei em volta. Olhei pras pessoas. Pessoas que eu conheci, pude passar alguns dias perto, e pessoas que de repente permaneceram na minha vida esse ano. Pessoas que continuam aparecendo através delas. Pessoas que de fato eu ganhei de presente. Fiquei orgulhosa. Olhei pra trás, pra quem ficou, pra coisas que finalmente consegui superar, e fiquei ainda mais.
Eu admiti coisas sobre mim pra mim mesma. Sobre como eu vivo e como sinto coisas, principalmente em relação às pessoas. Sobre relacionamentos. Sobre fazer música. Sobre minha capacidade e [não] aproveitamento criativo. Daí bateu a frustração. Senti que não ando fazendo nada, há tempos. Mas sei que não é completamente verdade. Mas me senti em condições de ser honesta comigo mesma sobre isso. Sobre necessidade de estudar, sobre como fazê-lo, sobre tocar outras coisas, ter coragem o bastante de assumir coisas que sempre quis fazer e fui meio me perdendo e por isso requerem trabalho, mas são possíveis. E potencialmente mais satisfatórias. Pra dizer 'eu posso fazer isso', não porque é mais fácil, mas porque eu quero. Porque é bom.

Era simplesmente isso.
Claro que não só isso, teve mais merda acontecendo comigo e com pessoas à minha volta nesses dois últimos anos do que sou capaz de contar.
Mas isso é parte essencial.
Querer fugir de coisas que não gosto sobre mim mesmo, ou que eventualmente eu achava que prejudicavam minha relação com as pessoas - ao ponto de prejudicar minha forma de me comunicar por exemplo, o que é bastante importante pra mim - me renderam várias situações que só me afastaram ainda mais de resolver qualquer coisa. Querer ser o que outra pessoa esperava de mim não podia dar muito certo. Eu tinha que olhar pr'aquilo e ver até que ponto aquilo poderia ser mudado - e deveria sê-lo e por qual motivo. Por mim, e pela relevância daquilo na minha vida, e nas minhas próprias necessidades e prioridades.
Parece um discurso extremamente egoísta, eu sei, mas foi meu meio de sobrevivência recente.
Admitir que às vezes o que eu realmente penso ou faria à respeito de uma coisa não é o esperado por quem tá em volta. Que eu não acho certas coisas tão erradas quanto boa parte dos meus amigos, e que a gravidade de uma mesma ação é muito variável dependendo de quem está envolvido e quem - e como- sai prejudicado. Sem canalhice, sem trapaças ou nada assim. Eu nunca fui e duvido que algum dia consiga ser assim. Mas sem frescura também.
Me sentir confortável comigo mesma era uma coisa meio latente nos últimos tempos.
E sinceramente, me deixou mais calma. Mais complacente com esperar o que está por vire o tempo de resolução de situações muito complicadas. Menos afoita de provar qualquer coisa pra quem quer que seja.
Todas aquelas máximas do ano voltando à cabeça.
"Keep it simple" é a do Barry Green, que aprendi em outubro.
Aplicável à quase tudo, agora e sempre.

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