07 julho, 2011

Bom, acho que é mais ou menos assim que as coisas acontecem:
você se magoa de uma maneira inimaginável,
descobre que não tem graça nenhuma qualquer coisa que parecia ter algum sentido antes,
fica cronicamente decepcionada com o mundo,
faz uma sequência de mal-pensadas impulsividades,
descobre que ficar sozinha é muito mais legal, que você gosta daquilo mais do que gostaria de admitir - tudo à respeito de andar sozinha, fazer compras sozinhas, cozinhar e beber uma garrafa de vinho com o melhor macarrão ou salmão quase cru com pão preto que você poderia fazer naquela noite,
e que não tem nada de interessante em tentar coisas com pessoas que potencialmente gostam de você mas não tem nada a ver com você nem estar com você ou sua vida,
e que seus amigos são os melhores,
e que seus amigos são as pessoas mais difíceis às vezes, e que parece que só aquelas pessoas que você consegue ver uma vez ou outra na semana é que conseguem conversar com você, ou entender o que você fala,
que você precisa dar um tempo da existência social,
que estudar sozinha quieta no seu canto, pensando e planejando coisas absurdas é muito mais divertido quando ninguém te enche o saco,
que tem muitas outras coisas que você quer e precisa fazer e está mais que na hora de fazer planos legais que de fato se realizem.
E finalmente se vê no seu desejado período-semi-monástico
e então seu humor melhora,
sua esperança volta,
você monta projetos malucos com seu melhor amigo,
não consegue pô-los bem em prática, outras crises aparecem,
coisas piores acontecem, inclusive com seu melhor amigo, fica muito triste e quase que totalmente sem esperança com essa coisa toda do amor-um-dia
você lembra porque começou a fazer aquilo, porque gosta tanto daquilo,
conhece pessoas inspiradoras, pessoas admiráveis,
lembra quantas delas você já convive na sua vida,
e conversas sérias se repetem,
você ouve coisas pesadas, se desespera, se desanima e anima na mesma semana,
recomeça tudo porque ainda não é tarde demais,
fica muito puta com as mesmas coisas de sempre, faz promessas do impossível, sente uma saudade cortante de quem tá longe demais,
sente saudade de você, de quem não quer mais estar ali.
Discute com todo mundo, foge de todo mundo,
percebe que ninguém tá percebendo muito o que tá acontecendo,
começa a se divertir em momentos inusitados e com coisas que normalmente todo mundo reclama (bom, na verdade isso é algo recorrente na minha vida),
ganha oportunidades de comprovar que preconceitos antigos e superados eram de fato muito babacas,
ri muito disso com quem te fez aprender isso,
ganha boas companhias para trajetos sonados,
faz amigos sem nem se dar conta,
fica muito feliz de tocar com seu naipe, como há anos não acontecia,
volta a gostar de tocar em orquestra simplesmente por ser uma coisa que te diverte e faz bem,
lembra o quanto gosta de aprender,
e o quanto tem pra aprender,
se deslumbra,
vai ver a orquestra que sonha ver há séculos, aperta a mão de um daqueles seus ícones de admiração, bate palmas por 5 min,
sente um calor e uma esperança com aquilo tudo,
faz novos planos mirabolantes futuros,
fica revoltadíssima, cheia de idéias, cheia da vontade mais que necessária,
fica feliz,
bebe muito com seus amigos,
dá muita risada,
e acaba uma discussão ideológica às lágrimas, como sempre,
e com um abraço, o que é novidade,
e uma dessas censurinhas recorrentes de "você sempre faz isso, você é muito deprê".
tem um dia seguinte pra lembrar que não é mais tão nova,
pra se surpreender com um cuidado bonito,
passa um dia com sua família paulistana, ainda que bem incompleta,
sente um conforto de ter pessoas tão doces numa cidade tão bagunçada,
se sente perdida, desiste de brigar,
fica muito cansada, se enche de esperança de julho,
se empolga com conversas de semelhanças, se pega se divertindo mais do que deveria, gostando mais do que deveria,
provoca burradas,
fica estranhamente feliz de perceber arrependimento
e o quanto aquilo faz parte de um acreditar que não tem a ver com moral, mas com carinho, que você conclui que felizmente também não perdeu afinal.
você vai embora, todo mundo vai meio embora até agosto,
e então tem a saudade.
(estranho como as coisas que eu menos consigo entender mais me ensinam)




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